Mestre ou aprendiz: faces de um narrador
Resumo
Narrar é, segundo Benjamim, uma forma de intercambiar experiências, e se direcionarmos nosso olhar para o sujeito dessa narrativa, o teremos em duas funções: ora como narrador mestre, ora como narrador aprendiz. Contar estórias é um instrumento útil para evitar o esquecimento e para provocar uma abertura de espaço para a criação. O presente artigo apresenta uma das inúmeras possíveis leituras sobre as estratégias utilizadas por Mia Couto, em Terra sonâmbula, na criação de sujeitos que narram, que contam estórias. Uma busca por esses narradores em trânsito, narradores flutuantes ou nômades. Sujeitos em constante ir e vir, transitando e destransitando entre mundos aparentemente paradoxais, mas que se encontram separados por uma tênue linha, que, a qualquer momento, pode fazer com que mestre e aprendiz troquem de campo e função, ou até mesmo exerçam ambas. Os dois aprendem estórias novas e contam estórias antigas em um ir-evir espaço-temporal. O comportamento desses narradores é marcado por viagens e mutações ininterruptas. Constituinte de uma literatura atravessada por elementos insólitos, em um trabalho minucioso com a linguagem e em constante diálogo com a tradição moçambicana, esse comportamento tornase referencial para a compreensão da história política e cultural do país.
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Referências
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