Safando a Mistida: deslizamentos entre trilogia, romance e palavra

  • Juliana Cristina Salvadori
Palavras-chave: Literaturas africanas, Literatura guineense, Literatura menor, Mistida, Intertextualidade.

Resumo

Este artigo propõe uma leitura de Mistida, romance do autor guineense Abdulai Silá, baseada em algumas estratégias narrativas por ele empregadas. Uma dessas estratégias é a intertextualidade com os romances anteriores – A última tragédia e A eterna paixão – aspecto que dá a Mistida papel estruturador no arranjo arquitetônico da trilogia de mesmo nome. Outra estratégia é aquela que Guatarri e Deleuze definiram como típica de uma literatura menor, a de desterritorializar uma língua maior, neste caso uma língua européia – a portuguesa –, oficial mas de pouca circulação entre a população em geral, e reterritorializá-la a partir das referências de outras culturas locais, sinalizando que algo sempre fica de fora do sistema dito maior. Para compreender essa estratégia, detive-me principalmente na palavra mistida, que nomeia a trilogia e o romance, palavra de uso comum – safar a mistida –, que, como um riff, uma frase melódica, tema ainda por ser resolvido, repete-se e nos desafia a decifrá-la.

 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

BHABHA, Homi K. DissemiNação. o tempo, a narrativa e as margens da nação moderna. In: BHABHA, Homi K O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

FORSTER, Edward Morgan. Aspectos do romance. Tradução de Sérgio Alcides. 4. ed. São Paulo: Globo, 2005.

GANHO, Ana Sofia; McGOVERN, Timothy. Using portuguese: a guide to contemporary usage. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

GUSMÃO, Manuel. Da literatura enquanto construção histórica. In: BUESCU, Helena; DUARTE, João Ferreira (Org). Floresta encantada: Novos caminhos da literatura comparada. Lisboa: Dom Quixote, 2001.

HAMILTON, Russel. A literatura dos PALOP e a teoria pós-colonial. 1999. Via Atlântica, n. 3, dez. 1999. Disponível em: <http://www.casadasafricas.org.br/site/

img/upload/665414.pdf>. Acesso em: 29 mai. 2008.

MORETTI, Franco. Atlas do romance europeu 1800-1900. São Paulo: Boitempo, 2003.

RENAN, Ernest. What is a nation? In: BHABHA, Homi K. (Ed). Nation and narration. London and New York: Routledge, 1995.

SÁ, Márcio Cícero de. Da literatura fantástica (teorias e contos). 2003. 141f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada) – Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-23102003-190256/publico/TeseMarcioSa.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2008.

SILÁ, Abdulai. Mistida. Bissau: Kusimon, 1997.

SILÁ, Abdulai. Mistida (triologia). Praia-Mindelo: Centro Cultural Português, 2002. Colecção Ficção

Publicado
17-12-2009
Como Citar
Cristina Salvadori, J. (2009). Safando a Mistida: deslizamentos entre trilogia, romance e palavra. Scripta, 13(25), 173-192. Recuperado de https://seer.pucminas.br/index.php/scripta/article/view/4376
Seção
Dossiê: Literaturas africanas de língua portuguesa