A Angola que o romance contemporâneo nos permite ouvir:
silêncio e canção, corpos que flutuam, corpos que pesam em Os transparentes, de Ondjaki
Resumo
Partindo de pesquisa desenvolvida durante o doutorado, aproprio-me, neste artigo, da obra de Ondjaki, notadamente Os transparentes, para desenvolver em torno dela uma leitura crítica pós-colonial. O romance, lançado em Portugal em 2012, pela Editora Caminho, e no Brasil, em 2013, pela editora Companhia das Letras, tem como pano de fundo uma Luanda pós-independente, pós-guerra civil e pós-socialista, assinalada pelas ruínas coloniais (Stoler, 2016), pela exploração desenfreada de recursos naturais, pela precarização do acesso à moradia, ao saneamento básico e a outros direitos fundamentais de classes socioeconômicas mais vulneráveis, que bem poderiam ser designadas como subcidadãs (Mamdani, 1998). Entrecortando essa temática mais aparente, a narrativa de Ondjaki contempla outros temas sensíveis que caracterizam o cenário político e cultural pós-independência, como a violência sistemática, o ataque à diversidade de vozes e ideologias, culminando no esgarçamento do projeto político democrático utópico pré-independência – como já alertava o narrador de A geração da utopia, de Pepetela. Assim, interesso-me, nesta análise, pelas personagens (secundárias) que modulam a relação entre voz e silenciamento, cidadania e subcidadania, a fim de refletir criticamente sobre a Angola que a literatura contemporânea nos que fazer ver e ouvir.
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Referências
CABRITA, Felícia. Massacres em África. 3. ed. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2011.
MAMDANI, Mahmood. Ciudadano y súbdito: África contemporánea y el legado del colonialismo tardio. Traducción de Isabel Vericat Nuñez. México: Siglo Veintiuno, 1998.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Tradução Sebastião Nascimento. São Paulo: N-1 edições, 2018a.
MBEMBE, Achille. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. Tradução Renata Santini. São Paulo: N-1 Ediçoes, 2018b.
ONDJAKI. Os transparentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
STOLER, Ann Laura. Duress: imperial durabilities in our times. Durham/Lodon: Duke University Press, 2016.
SIMONE, AbdouMaliq. Reconfigurando las ciudades africanas. In: Iconos. Revista de Ciencias Sociales, n. 51, enero-febrero, 2015, p. 131-156. Disponível em:
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