As Construções perifrásticas [V1andar/Ir/Sair/Vir/Viver +V2gerúndio] e a expressão do aspecto: restrições sintático-semânticas e motivações cognitivas do seu processo de gramaticalização
Resumo
Estudou-se, à luz do quadro teórico da linguística cognitiva, mais especificamente do conceito de esquemas imagéticos, o processo de gramaticalização de cinco verbos da língua portuguesa que originalmente traduzem a noção de movimento. Explorou-se a hipótese de que os esquemas imagéticos presentes na conceptualização desses verbos podem explicar algumas restrições sintático-semânticas identificadas nas construções perifrásticas resultantes dessa gramaticalização. A análise diacrônica empreendida acusou que, à exceção da perífrase [V1sair + V2gerúndio], que se gramaticalizou apenas no período clássico da língua, as formas andar, ir, vir e viver já funcionavam como auxiliares aspectuais quando combinadas com uma forma nominal de gerúndio desde o século XIII. Observou-se, ainda, que o esquema FONTE-TRAJETO-ALVO é fator imprescindível para que o verbo de movimento seja reanalisado como forma auxiliar em uma construção em que V2 é uma forma de gerúndio, além do que a combinação de dois esquemas imagéticos dificulta o processo de reanálise, retardando, assim, o curso da gramaticalização do auxiliar.
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