Água parada

  • Ana Paula Pacheco Universidade de São Paulo
Palavras-chave: A terceira margem do rio, Mito e história, Guimarães Rosa, Conto, Marcas do trágico.

Resumo

“Na terceira margem do rio”, de Primeiras estórias, o ato radical de um homem que se muda para o meio do rio interroga a normalidade e incita o filho a seguir o mesmo percurso, lançando-se ao mesmo paradoxo: partida e permanência num não-lugar. O mito, inillo tempore, revém mediado  nessa narrativa sob uma tônica trágica, quando o homem não é dono de seu destino. O trânsito para essa terceira margem suspende a História, sem reverter, entretanto, uma situação sem saídas: a revelação mítica de uma outra esfera do real surge com o reposição  de impasses e paralisia. Simultaneamente, para além das angústias pessoais daquele que não consegue seguir um caminho que se lhe apresenta obscuro e terrificante, o desenho de gestos análogos a ritos que não se completam parece apontar, no conto, para um contexto mais amplo.

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Publicado
13-10-2005
Como Citar
PACHECO, A. P. Água parada. Scripta, v. 9, n. 17, p. 61-74, 13 out. 2005.