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Javier Vadell Dossiê Temáco: China – Apresentação do Editor
Dossiê Temático: China –
Apresentação do Editor
Javier Vadell
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DOI: 10.5752/P.2317-773X.2020v8.n3.p7
Recebido em 24 de novembro de 2020
Aprovado em 24 de novembro de 2020
A ideia deste número especial da Estudos Internacionais surgiu
em 2019 no processo de organização do Congresso Internacional: “In-
novación y desarrollo em China: oportunidades para América Latina,
organizado pelo Centro de Estudios Latinoamericanos da Escola de Estudos
Internacionais da Universidade Sun Yat-Sen, Zhuhai, República Popular
da China, em 15 e 16 de novembro.
O comité organizador propôs iniciar um debate em relação às pos-
sibilidades de desenvolvimento e a cooperação internacional com foco
na inovação a partir de uma área geográca determinada da República
Popular da China (RPC) conhecida como “Área da Grande Baia”, forma-
da por Hong Kong, Macau e a província de Guandong que envolve nove
cidades: Zhuhai, Guangzhou, Shenzhen, Foshan, Huizhou, Dongguan,
Zhongshan, Jiangmen y Zhaoqing. Esta região é fundamental para o
desenvolvimento econômico, tecnológico, cientíco e nanceiro, assim
como para a projeção econômica global da China. A área da Grande Baia
tem uma importância estratégica crucial para a implementação da plani-
cação do governo da RPC visando o desenvolvimento do país e da Ásia
por intermédio da Iniciativa do Cinturão e a Rota, conhecida em inglês
como Belt and Road Initiative.
Essa iniciativa está no seu começo e tem uma ambição global. A
pandemia da COVID 19 acelerou e diversicou os compromissos, além
dos assuntos econômicos, e reforçou os compromissos da cooperação sa-
nitária. A crise da globalização e do multilateralismo, a ausência de um
fornecedor de bens públicos globais, a inconsistência de líderes populis-
tas em Ocidente para enfrentar de maneira prudente e cienticamente
fundamentada a crise sanitária, as tendências protecionistas dos Esta-
dos Unidos, a fragilidade dos sistemas públicos de saúde em contextos
de crescente desigualdade social e a ‘guerra’ tecnológica e comercial de
Washington com Pequim são problemas que se revelaram diante da crise
sanitária. Com a irrupção da pandemia surgiu um grande obstáculo para
a economia global, produzindo uma aceleração dramática de dimicas
econômicas e políticas em crise, mas também abrindo a possibilidade à
criatividade por meio de novas formas cooperação que podem vir a forta-
lecer o multilateralismo numa Comunidade de Destino Comum.
1. Coordenador do Programa de Pós-
-graduação em Relações Internacionais
da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas). Possui
graduação em Licenciatura em Relações
Internacionais - Universidad Nacional
de Rosario (1989), mestrado em Ciência
Política pela Universidade Estadual
de Campinas (1997) e doutorado em
Ciências Sociais pela Universidade Es-
tadual de Campinas (2002). Atualmente
é professor adjunto IV da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.
Bolsista de Produtividade em Pesquisa
no CNPq, nível 2. Editor Chefe da Estu-
dos Internacionais, revista de relações
internacionais da PUC Minas. ORCID:
0000-0002-5398-6083. Contato: javier.
vadell@gmail.com.
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estudos internacionais • Belo Horizonte, ISSN 2317-773X, v. 8, n. 3, (set. 2020), p. 7-8
Uma nova realidade pós-pandemia deverá inevitavelmente reto-
mar as problemáticas analisadas pelos colegas em esse número especial
dedicado à China. O conjunto de artigos apresentados possui uma rique-
za acadêmica ímpar e plural. Eles abordam uma problemática complexa,
cujo ponto focal é a China e envolvem atores diversos – além do clássico
estado nacional – numa perspectiva multidimensional e multitemática.
Nessa direção, o professor Mariano Mosquera foca na questão do investi-
mento estrangeiro em duas regiões da China (Guangdong e Jiangsu) vis
a vis a problemática do direito. Rubén Ruiz-Ramas analisa a relação es-
tratégica entre a RPC e a Rússia na Iniciativa do Cinturão e a Rota. Sonia
Evangelina Alcántar Jaime faz uma leitura da relação China-Hong Kong
à luz das possibilidades de aprendizado para América Latina. Daniel Mo-
rales e José de Jesús López Almejo realizam uma interessante analise
comparativa da complexa relação fronteiriza, em clave sub-nacional, en-
tre uma região de América Latina: Tijuana-San Diego, e outra na China:
Zhuhai-Macao. O artigo de Jaime Antonio Preciado Coronado propõe
uma interpretação desde a geopolítica para entender o planejamento para
o desenvolvimento comparando o Conselho Sul-americano de infraes-
trutura e Planejamento (COSIPLAN-UNASUR) e o Foro CELAC-China.
Francisco Proença Garcia aborda a importante temática das relações Chi-
na-África a partir do caso moçambicano. Ian Prates, Carolina Lages e Vi-
tor Menezes analisam a Iniciativa do Cinturão e Rota na mídia brasileira.
A complexa relação entre o multilaterismo, via Organização Mundial do
Comércio, e consolidação do monopólio de um recurso estratégico para a
industria 4.0, as terras raras, é o foco do artigo de Alexandre Cesar Cunha
Leite, Mércia Cristina gomes de Arjo e Elia Elisa Cia Alves. Por sua par-
te, Klaus Bodemer apresenta uma janela de oportunidade no seu trabalho
ao apontar possibilidades de cooperação entre China e América Latina.
Será mesmo uma oportunidade para América Latina evitar a “armadilha
do desenvolvimento? Finalmente, Eduardo Daniel Oviedo, em seu arti-
go, realiza uma pesquisa entre unidades estatais e subnacionais de caráter
comparativo entre a Argentina e a China com o intuito de entender as
relações com a área da Grande Baia.
Convido pessoalmente os leitores a desfrutar a leitura desses inte-
ressantes artigos que compõem o nosso número especial.