Memórias irônicas de um espírito: a insólita viagem por passados e presentes
Resumo
Sempre que o assunto discutido é a memória, não podemos
esquecer que estamos também trazendo a baila noções
como a da consciência de si, a de identidade do sujeito, de
temporalidade e de espacialidade. O nosso trabalho procurará
refletir sobre essas relações, com o objetivo de chegarmos a
uma melhor apreensão do que se passa no ato da escritura
que chamamos memórias literárias. Costumamos chamar
de “memórias” de um personagem a narrativa feita por ele
mesmo dos acontecimentos de sua vida, com uma insistência
sobre os acontecimentos objetivos, mais do que sobre o vivido
subjetivo. O que e a quem interessa esse “eu” particular,
singular, os seus mitos, sonhos e fantasmas? Na elaboração
literária de uma vida, o autor realiza um incessante diálogo
entre o passado e o presente, colocando em cena a elaboração
de seu ser pessoal, na procura das significações contidas nos
fatos passados. Talvez possamos afirmar que o memorialista
faz uma segunda leitura do tempo vivido ou... perdido. Para
a nossa análise dessas questões utilizaremos o romance As
memórias de um espírito, de Germano Almeida, um romance
no qual a ironia, o humor e o insólito são instrumentos que nos
permitem comparar os objetivos perseguidos pelo romancista
e um memorialista, na tentativa de avaliar se existem grandes
diferenças no que se refere ao papel social do escritor no
trabalho com a linguagem.
Palavras-chave: Memórias, ironia, humor, insólito, Germano
Almeida
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