Memórias infantojuvenis, em Bom dia camaradas, de Ondjaki
Resumo
A valorização da memória foi fortalecida por um novo tipo de
discurso voltado para a recodificação do passado, entendido
também como o desejo de lembrar e o medo de esquecer,
ou de sermos esquecidos, conforme Andreas Huyssen (2000).
Lamentando as velozes alterações que tencionam o medo do
esquecimento e a vontade de lembrar, outros estudiosos contemporâneos
debruçam-se sobre o fenômeno memória individual
e coletiva, elemento essencial da identidade. Entre esses,
Pierre Nora, Maurice Halbwachs, Jacques Le Goff, Fernando
Catroga, Henry Rousso. Nos países africanos, como Angola,
a memória mostra-se componente basilar da identidade
do povo, assim como é ressaltada a importância da literatura
nesse processo, transcriando o passado. O romance Bom
dia camaradas, do angolano Ondjaki, pode ser tomado como
indicador do tempo a que os fatos rememorados no espaço
narrativo remetem. Os acirrados embates da Guerra Civil, que
só terminaram recentemente, são retomados a partir da visão
de um narrador que se coloca dentro dos fatos. Este, como
narrador-protagonista, insere-se numa representação seletiva
da memória que envolve o espaço familiar, social e escolar.
Pode-se perceber uma maneira singular e diferenciada de relatar
a memória e reafirmar a identidade de seu país. É desse
lugar estratégico que o narrador relembra, com olhos de afeto,
de cumplicidade, de curiosidade e tom infantojuvenis, os muitos
conflitos que marcaram indelevelmente a história recente
de Angola.
Palavras-chave: Memória; Identidade; Afetividade; Angola;
Ondjaki.
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Referências
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