Antropofagia em acordes dissonantes: uma possível digestão de um antropófago indigesto
Resumo
“Decifra-me ou devoro-te". Desafio lançado pela Esfinge de Tebas, um monstro exótico metade leão, metade mulher que lançava enigmas aos viajantes e comia aqueles que não fossem capazes de decifrar o enigma proposto. Na tragédia grega de Sófocles, o conhecimento era a salvação; como uma forma de punição, a criatura apenas devorava aqueles que não se apresentassem capazes de resolver o que lhes era proposto. Em um contexto distanciado temporal e espacialmente, encontramos os rituais antropofágicos dos índios Tupinambá, representantes do exotismo do novo mundo, que, de maneira inversa, devoravam apenas seus inimigos que tivessem qualidades positivas. Era, pois, uma forma de valorização do outro. No início do século XX, Oswald de Andrade afirma em seu manifesto antropofágico que só a “antropofagia nos une”, propondo nitidamente que deveríamos “deglutir” o legado cultural europeu e “digeri-lo” sob a forma de uma arte tipicamente brasileira. Este trabalho pretende analisar as reverberações dessa forma antropofágica em um outro momento da produção artística: o movimento cultural Tropicalismo. Para tanto trabalharemos com a letra da canção ícone do movimento tropicalista ¬ a composição do baiano Caetano Veloso ¬ partindo do princípio dissonante de que essa canção da música popular brasileira, com semelhanças e diferenças, funciona como uma reverberação antropofágica na construção do que entendemos como identidade brasileira.
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