A produção de verbos monoargumentais no processo de aquisição da linguagem
Resumo
Neste artigo buscamos apresentar resultados de uma pesquisa sobre a produção de verbos monoargumentais no processo de aquisição da linguagem. A partir do quadro teórico gerativista, especialmente Chomsky (1975, 1977, 1995, 2002), investigamos como as sentenças formadas por verbos que exigem somente um argumento surgem na produção linguística de duas crianças. Tradicionalmente, os verbos que não apresentam complemento verbal são categorizados como intransitivos. Contudo, estudos demonstram que esses verbos dividem-se em duas classes verbais distintas: a dos inergativos e a dos inacusativos, pois apresentam características sintáticas e semânticas diferentes entre si. Dentre as propriedades sintáticas que diferenciam esses verbos, essa pesquisa focalizou-se na análise da ordem dos constituintes nesses tipos de sentenças. No que se refere às propriedades semânticas, essa pesquisa centrou-se na relação entre as noções de (a)telicidade e os verbos monoargumentais. Palmiere (2002) e Cançado e Ciríaco (2004) indicam que os verbos inacusativos tendem a ser télicos e os inergativos, atélicos. Há, por outro lado, estudos que demonstram que essa relação nem sempre ocorre, tal como o trabalho de Xavier (2016). Os resultados das análises apontam que os verbos inergativos ocorrem exclusivamente na ordem sujeito-verbo e os verbos inacusativos aparecem preferencialmente nessa ordem. A produção de sentenças inacusativas na ordem sujeito-verbo permitiu identificar a aplicação da operação sintática de movimento, considerando-se que o argumento único desse tipo de verbo é gerado na posição de objeto da sentença. Os verbos monoargumentais também possuem relação com o aspecto semântico. Os verbos inacusativos e os inergativos formaram mais vezes predicados atélicos
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Referências
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